sexta-feira, 15 de julho de 2011

Só eu vejo o mundo com meus olhos. Numa cor monocromática, numa onda sonora engarrafada de alma negativa. São todos bastardos de si, filhos do mundo, escravos de um sistema. Andam nas ruas com o coração batendo, pedindo pra sair de um ambiente hostil – uma hemorragia oxidante. Amplificando o som e a cena, vejo uma massa corpulenta mexendo-se nas ruas em direção ao ser desconhecido, buscando algo que será perdido. O que se tem na vida, é o que se vai. Comprando e errando. Caindo. Voltando e comprando de novo. É isso que o sistema faz. Um ciclo que te aponta o dedo do descontentamento, baixando a auto-estima. Essa que nunca existira.

Assim você caminha na rua. Onde todos te olham, mas não reparam na sua existência. Só vêm a sua sombra ou a mancha preta que seu paletó faz. Nada mais. Se te esbarram pedem desculpas e enquanto eu espero o ônibus observo. Viro-me para olhar o resto das pessoas no ponto. Fazem cara de preocupadas, paisagens, falam aos celulares. Não importam, fazem tudo menos perceberem meu olhar analítico. Se me vêm sem querer, disfarço. Nem sempre. Às vezes não quero disfarçar, olho. Simplesmente olho, sem maiores expectativas. Olho nos olhos, reparo suas dores, não as curo. Sigo até suas lágrimas escondidas e controladas por uma película. É isso que a vida faz. Acorrenta-te e te apazigua as dores, mesmo sendo a manifestadora delas. Num lugar onde não existem ambientes propícios aos problemas da sua alma. Aos soluços do seu prato. Aos soluços das mágoas.

Enquanto isso continuo andando. Até ver um poeta caminhando. Eu paro para observá-lo e vejo ele cantar, escuto o seu olhar e simplesmente sei que ele procura um planeta onde seu choro seja ouvido, suas lágrimas manifestadas e sua dor exibida como numa vitrine. Ele sangra, mas nem todos vêm a cor de seu sangue. Por isso eu passo de cabeça baixa. O poeta não se pode olhar. Pois todos ao lhe ver chorariam com ele. Eu, meramente, faço parte de um mundo que jais no abismo.