quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

 

É sempre bom ler Clarice. Entendê-la não é o objetivo, questionar-se talvez seja. É incrível como ela vive num universo do qual você não faz parte, somente ela vive e sabe o que vive. No entanto, ela te envolve de tal forma que passa a dominar o que você pensa e quando você vê já está automaticamente pensando como ela e não se surpreende mais com tanta irracionalidade. Talvez uma irracionalidade consciente e perspicaz. É incrível se sentir Clarice e Macabéia ao mesmo tempo. Ela é com certeza a minha terceira perna. Só que às vezes eu acho que lá no fundo ela não me é útil e com certeza eu não posso viver sem ela, mesmo que seja mais viável andar com as duas pernas. A Clarice me atormenta, me segue, me deixa frustrada em relação aos sentimentos alheios. Ela transborda toda a sua depressão numa postura de mulher determinada e isso me assusta. É como uma escolha, uma opção em ser sozinha e triste. De fato talvez seja opção de muitas pessoas. No entanto, as pessoas sofrem e choram. Ela não parece o tipo de pessoa que chora por tristeza ou por solidão. Só me parece aquele tipo que se transborda em melancolia e deixa o sentimento a dominar de tal forma que já se sente anestesiada à mesma. É um tipo de vida humano que não encontrarei jamais e não esquecerei. Já que ela viverá sempre em mim.