terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ao ler Kafka esses dias me identifiquei com sua relação com seu pai. Posso estar me precipitando, mas não creio que outra pessoa pudesse descrever uma relação tão atordoada e problemática, mesmo que a vivenciasse. Alias, Kafka nos faz sentir vergonha do que somos, por descrever o que sentimos no nosso interior mais íntimo. Alguns autores usam técnicas parecidas e na verdade ajudam o leitor a se conhecer. Kafka invade a sua mente e rouba a sua memória, fazendo-o se identificar com o que ele descreve.

"Tu me perguntaste recentemente por que afirmo ter medo de ti. Eu não soube, como de costume, o que te responder, em parte justamente pelo medo que tenho de ti, em parte porque existem tantos detalhes na justificativa desse medo, que eu não poderia reuní-los no ato de falar de modo mais ou menos coerente." (Carta ao pai).

A carne treme, a letra diminui, os olhos se desviam e tu ainda gritas demonstrando o prazer que tens em ter o domínio.