quarta-feira, 27 de julho de 2011

Inútil dormir que a dor não passa

“A tristeza é senhora desde que o samba é samba é assim”. Desde os tempos de Bach, desde as liras mais singelas dos anjos a tristeza resplandece no coração dos homens; nas entranhas de sua carne e para casos mais crônicos, sua estampa na pele é subitamente visível. Diríamos, portanto, se tratar de uma dor.
Não uma dor qualquer, muito menos uma doença. A tristeza é um sopro vital, é o que tem de mais verdadeiro em nossa espécie. Animais vivem de matar suas presas para seus sustentos. Nós vivemos fingindo que amamos, que somos felizes, que triunfamos em alguma batalha; vivemos de orgulho, de vaidade, de medo e se não fosse tudo isso, não estaríamos vivos. 
A questão é que fingem uma vida que se segue na condição de fingir-se. Quem possui a tristeza dentro de si, cuide-a para que não se vá. Ela é a nudez do mundo e de suas relações superficiais. Ela nos traz a sensação de pureza, de que algo é realmente verdadeiro por si só. Ela possui sensibilidade que jamais poderias sentir. Não causa pena, pois não tem essa consciência em seu coração. Mas é capaz de sentir profundamente o que realmente significa amar. Não somente o amor platônico, mas também aquele que nunca se vai.
A tristeza, em sua estadia permanente, se acomoda em seu interior e faz com que ele bata o bastante para ser escutado e faz seu corpo tremer para que esse não se esqueça de quem o possui. Enquanto isso você pára. Escutas teu coração que possui nele algo que jamais o enganará. Ah! A tristeza é tão astuta, mas não chega a ser perversa. Só faz tuas mãos se fecharem, pois o tremor as adormece. E isso tudo só para que tu pares de viver com os outros órgãos e ouça somente um, que te suplica o mínimo de veracidade na tua vida. E tu o escutas. Para isso, tu fechas teus olhos para que os batimentos soem aos teus ouvidos interna e externamente. E tu o escutas melhor, pois se concentras em um só acontecimento. Nada o distrai. Nada o destrói. Tu somente vive pela primeira vez a experiência de existir e não ser somente um inacabado no meio de tantos. 
Esses que dizem que vivem, que amam, que compram e vendem suas vidas e dizem que a possui. E tu só o escutas. Porque a tristeza o possui e esse é seu sopro vital.

2 comentários:

Ph disse...

Não seria ela - a dor, a prova de que estamos vivos?

Adorei este também, tua prosa tem sabor de poesia.

Davi Drummond disse...

achei divino, de uma condução perfeita, levando o leitor a entrar dentro do texto e sentir cada palavra.