terça-feira, 6 de agosto de 2013

Estupidez humana

O barulho da TV da sala me incomoda e me incomoda muito. Mais por não estar assistindo e estar no meu quarto. Isso, inclusive, pode ser um bom motivo para me fazer levantar da cama e reclamar um pouco com o telespectador. Aquele cujo nome não importa muito nem sua formação quando se está, na verdade, assistindo TV. Nada mais importa quando se está assistindo TV. Deixa-se de existir por um instante para ver as tais coisas que nos incomodam tanto e no meio tempo algo para rirmos e nos distrairmos. 
Não. Não estou aqui para falar mal da TV e de toda a alienação e manipulação que ela nos fornece, juntamente com nossa passividade. Acho esse assunto chato já. Falemos de outras coisas que me incomodam.
Tem alguns anos que assisti um filme no CCBB, desses documentários que ninguém quer pagar para ver e algo me chamou muita atenção - Guantanamo. Por que raios nos esquecemos de Guantanamo? Acho que existem lugares e situações no mundo que temos que nos lembrar todos os dias. Por que julgar tanto os tais bastardos inglórios do Nazismo se os próprios não estão ai para a vingança? Por que esquecemos de ver algo tão presente e próximo de todos nós? Será que precisamos de quinhentos filmes sobre o assunto para ai sim comprarmos uma briga? Bom, fato é que o tal documentário relatava sobre um menino canadense que fora preso por engano e teve suas torturas filmadas por um ex-soldado arrependido. Na época, além de todas as cenas de tortura, o que mais me surpreendeu foi o ano do acontecimento - 2010. Eu, acostumada a ver torturas em filmes que relatavam a década de 20, fiquei chocada com algo tão próximo a minha realidade. Triste? Mais do que isso. Acho que tínhamos que pensar e lembrar disso todos os dias para não acharmos que tudo está tão lindo e belo num contexto democrático, o qual achamos que vivemos.
Outro fato vergonhoso é o trabalho infantil de crianças, nas quais muitas delas trabalham por R$0,50 por dia e têm sua dignidade perdida antes mesmo de se tornarem adolescentes. Crianças que nos esquecemos todos os dias e por que? Não precisamos nem ir muito longe. Vemos isso no nosso próprio país. Não. Nós não vemos. Esse é o tipo de coisa que não nos é transmitido e tampouco procurado por nós. No entanto, pelo menos há filmes que relatam isso. Mesmo que esses não sejam muito transmitidos, estão ai quando quisermos algo que nos choque e nos envergonhe mais ainda de sermos quem somos. Ao invés disso, nos contentamos com aqueles filmes tipo Diamante de Sangue, cuja apelação para assistirmos é o fato de ter um branco de olhos claros como protagonista. Bela apelação. Bela atuação. Sendo assim, já fizemos nossa parte social-cultural do dia, do mês.
E para aqueles que ainda não querem ir tão longe, nem precisam. Temos um sistema político podre e sujo para reclamarmos também. Esse está mais consolidado que tudo. A igreja católica entra em crise. A gripe suína vem e vai. Até um presidente negro chega na potência mundial. Vem crise. Vai crise. E a nossa política continua a mesma. A unica diferença é que agora é um pouco mais escrachada, já que temos leis que não são aplicadas como deveriam ser e que, no fim, acabam protegendo a própria corrupção. Mas esse já é outro assunto chato que todos já desistiram de debater. Não é? Engano meu. Esse é um assunto chato sim, mas que muitos estão cansados de aturar, até porque tem uma sutil inflação pra aumentar a insatisfação da população. Independente disso, esse é o assunto da vez. O que será que vem depois disso? Tornaremo-nos um país diferente? Será esse um processo de conscientização política? Qual resultado teremos de nossos governantes além do nosso querido governador do Rio de Janeiro fazendo um mea culpa de quinta categoria? Só faltou uma lágrima no canto do rosto. 
Fato é que não importa em que país estejamos ou qual importância internacional obtemos através de nossa economia. Não vivemos numa democracia. Somos enganados com o direito de voto, sites de transparência de federais e até mesmo quando dizem que eu tenho direito de ir e vir. Ir e vir, pra onde? De onde? Só se alguém for ganhar algo com essa minha caminhada, uma viagem talvez, contribuindo para diversos setores da economia ou minha ida ao trabalho, que além de me tornar mais digno na minha sociedade, contribui para  aquilo que eu chamo de país. Isso não é democracia. Estamos longe de chegarmos nisso que chamamos de um sistema democrático. Estamos longe, na verdade, de muitas coisas. As vezes eu acho que isso tudo não passa de um sonho que estamos tendo na viagem do navio negreiro. Isso se fosse possível dormir naquilo... 

sábado, 9 de março de 2013

Quando a poesia fez folia em minha vida

"Tudo era apenas uma brincadeira e crescendo, crescendo, me absorvendo e de repente eu me vi assim, completamente seu." Parece engraçada a forma como nos conhecemos, mas na verdade ela não é. Não é simplesmente nada demais nem tão pouco significativa. Sem querer desmerecer o que acabou acarretando em algo tão especial, mas não tivemos nenhum grande encontro, nem mesmo sequer uma grande atração ao nos conhecermos. Tudo não passou de um mero acaso que acabou pro porporcionar algo imensurável pra mim, diga-se de passagem. A paixão tem um sentido único para cada um. Há aqueles que se tornam embabacados, enquanto outros ficam mais concisos, sem causar grandes reboliços para que não se repare o sentimento. E ainda há alguns poucos bem intrigantes que justificam o sentimento com fórmulas químicas com o intuito de torná-lo simplesmente mais previsível. Esses a meu ver são os mais tolos. Os mais engraçados, porventura, são os que mudam do avesso. É como um efeito ritalina, simplesmente tornam o comportamento contrário ao natural. Isso é o que tem de mais bárbaro. Ver um sentimento tão hostilizado por uns e banalizados por outros se tornar simplesmente vassalador na vida de um ser humano.
No entanto, o objetivo não é dialogar sobre as paixões humanas. Esse é um assunto muito mais complexo para simplesmente ser comentado em poucas linhas. O objetivo aqui é ser só mais uma tiete do meu amor. Sim, eu sou bem tiete do que sinto. Não tenho mais vergonha de demonstrar todo meu sentimento, seja ele qual for. Ainda estou aprendendo a controlá-lo. Mas quero que saiba que eu sou uma eterna apaixonada. Eu adoro mais que nunca olhar pro lado e ver aqueles olhos cobertos por aqueles cílios enormes e loiros olhando pra mim como se eu fosse uma estrela. Eu adoro e venero mais que nunca a pureza do que sinto. Sinto amor de mãe, de irmã, de mulher, de filha por uma mesma pessoa. Não sei como, pode ser até mal interpretado por alguns. Mas eu sinto um amor puro, sem a necessidade de um motivo ou até mesmo a reciprocidade. Eu quero que você saiba ainda muita coisa que não cabe aqui, muita coisa que eu não conseguirei nunca dizer. Invejo muito os escritores por isso. Alias, invejo e tenho compaixão ao mesmo tempo. Muitos não conseguiram ou não conseguem terminar de expressar aquilo que almejam e morrem naquela tentativa brusca de expressar, expressar, expressar o que sentem, ouvem, comem, falam ou simplesmente querem. É doloroso demais escrever. É tão insana a tentativa, que muitos nem ao menos se atrevem em sua singela sabedoria. O que temos nos escritos é na verdade aquilo que queremos ler e não aquilo que se quis dizer. Temos uma visão turva e falha sobre todos os fatos.
Talvez seja exatamente essa a definição que se tem ao me ver escrevendo isso a você. Uma noção totalmente incompleta de uma tentativa frustrada. Seria necessário um passeio pela minha alma, talvez. Seria ainda mais complicado se tratando de uma alma feminina, repleta de contradições em sua personalidade e complexidade. Mas eu ainda tenho um sutil aliado. Creio que não seja suficiente, mas posso dizer que para compreender o que eu realmente sinto seja necessário viver a vida inteira ao lado desse sentimento. dia após dia, analisando de olhos fechados e abertos, com palavras e gestos, nos bons e nos maus momentos também. Essa interpretação seria única, mas não insuficiente. Eu com certeza não seria uma mulher ideal, até porque o conceito de mulher ideal é ditado pela mídia e isso infelizmente eu não quero e não posso me submeter. Mas com certeza seria ideal aos olhos de Deus e teria as virtudes as quais ele mesmo se refere ao citar a mulher em suas escrituras.
Isso só o tempo pode concretizar. Nada é mais lindo do que nossos planos e nossos sonhos. Desculpe. Há algo muito mais lindo que isso. Colocá-los em prática seria um sonho. "Vi um grande amor gritar dentro de mim como eu sonhei um dia"

SONHO - CAETANO VELOSO

terça-feira, 5 de junho de 2012

Do tempo que eu era criança

Nada esconde esse lugar. Esses ares arborizados, céu azul e luz do dia não me convencem. Nada tira a tristeza desse lugar. Nem mesmo a paisagem com pôr-do-sol tira a melancolia daqui. Cores e pessoas vivas em uma casa onde não há alegria. A solidão assombra em pleno sol do meio dia. Parecem folhas secas e velhas corcundas andando pelo bosque. A paz não é de boas amizades. É um bom nome para o silêncio que assombra. Nem ao mesmo nos afazeres do dia posso me desfazer disso. Lugar barulhento, inquietante, blasé. Lugar que finge ser o que não é, vive numa constante atuação, na qual não consigo sair, não posso me libertar. Por que convenceriam você que um lindo jardim seria um labirinto? Desses que te cercam e te escondem por sua beleza. Deixam-na muda com suas orquídeas e beija-flores. Esses sim são libertos, não se deixam enganar pela beleza de uma flor. Ao escurecer, pergunto para o tal lugar porque tanta manipulação. É como um cenário de uma bela paisagem no meio da cidade abandonada, no meio do caos onde todos os cegos conseguem enxergar a dor e o abandono do lugar. Nem mesmo as estrelas são capazes de suportar todos os gritos e sussurros da depressão que assola. Eu quero o escuro do mundo, coberto de sua superficialidade numa camada sutil para que eu não me perca. Do escuro, eu via o infinito. Sem abraço ou ilusão. Cheio de perdas e ingênuas lembranças do passado. Da época que a beleza da vida e os pássaros fingiam que existiam.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Fechem as cortinas

Penso à quem deveria enganar. Todos os dias busco alguém para assistir minhas encenações. Procuro sem cessar alguém que tire a minha máscara num desses bailes à fantasia em que vou com meus próprios trajes. Aqueles o qual fiz serem meus durante toda a minha vida. Revele-me. Redescubra-me todos os dias. Não fuja depois da meia noite, não se vá como todos os outros.
Não basta fazer da vida um teatro, quero alguém para ir ao camarim olhar nos olhos da atriz. A moça que tira seu brinco de perola e se vê num espelho manchado de tantas outras dores que ali passaram. Personagens que ficam, vidas que se vão. Histórias com um fim qualquer, desimportante. Eu quero os dois. Quero o baile, quero o palco. Mesmo sabendo que no fim, uma qualquer meretriz seria mais feliz. Dessas que carregam no olhar a melancolia que a vida lhe deu e no sorriso um cinismo qualquer cujo convencimento não é necessário. Seus pares são tão superficiais e baratos como sua maquiagem que mal consegue lhe esconder as rugas.
Para que se contentar com tão pouco? Sobras e restos me interessam, mas acabam rápido. Porque fingir que aquilo é o máximo que se pode ter? Uns vivem na esperança de encontrarem alguém que sinta a dor na mesma intensidade, que tenha a mesma herança de vida: insegurança, opróbrios e dor. Não se pode fugir disso, não há mais como fingir a necessidade de retirarem a máscara que cobre os olhos manchados de algo não identificado. Enquanto isso outros esperam num camarim mofado alguém que bata à porta e a abra sem dizer o quão bom foi o espetáculo, mas sim que ele não precisará se repetir. Libertação no meio de uma prisão construída por nós mesmas.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Simplesmente Alice

O que é necessário para nos encontrarmos? Vivemos nossas vidas em nosso cotidiano, sempre de forma dígna e estável. Será que realmente precisaríamos de algo mais? Talvez de um chocolate ou uma traição extraconjugal.     Algo para sair da rotina e conhecermos nosso interior. Limites e angústias. Sentimentos mais profundos que nos tornem realmente interligadas a algo. Alice era viva, mas não sabia viver. Era feliz até descobrir que a vida que tinha a tornava inexistente. Ao conhecer de fatos nossos amigos, compreendermos os papéis que nossos familiares representam. É como um grande palco, em que cada um tem um roteiro e um personagem enquanto Alice quer que Capitu faça a Madre Tereza. É impossível, uma loucura de sua parte. Isso porque, certamente, Alice não vê o cinismo de Capitu em seus olhos dissimulados, mas sim a doçura e benevolência de Madre Tereza. Uma completa insanidade, mas no fundo ela não quer ver o que esta em sua volta. As poucas vezes que experimentou quem realmente era não estava em sã consciência. Fazia parte de um transe seu, um esconderijo. O que faria Alice se por um dia sentisse o cheiro de seu sangue? Sim. Ou talvez o gosto de ferro de seu sangue, juntamente com a amargura no final da experiência. Ela esqueceu que estava viva, devia apanhar para lembrar que existia ainda sensibilidade a dor em seu corpo? Deveria então cair de um penhasco? Não, Alice preferiu entrar em transe, fora de si para que tivesse enfim uma relação com si mesma. Não seria fácil saber quem realmente são seus amigos, filhos, pai, mãe e irmã. A partir de então embarcou num romance, até terminar sozinha. Sem marido e amante. Mas com a chance de fazer qualquer pessoa apaixonar por si. Seria uma poção mágica? Um feitiço? Uma sedução? Simplesmente tinha essa opção. Poderia ser um presente dado por um velho sábio, uma poção, literalmente. O que deveria, por fim, Alice fazer? Escolher o marido e o conforto de um lar com os filhos? Deveria engatar num romance com o tal amante? A verdade disso tudo é que teria grandes chances de ser feliz em qualquer uma das relações. Pois em ambas haveria a certeza do amor do parceiro e isso é o que nos faz procurar alguém durante toda a vida. Isso é o que nos faz aguentar aquilo que não gostamos, é o que nos faz seguir adiante. Precisamos que um outro esteja apaixonado por nós e depois lutamos para que essa paixão não acabe. Talvez um lute mais que o outro. A questão é que precisamos disso, queremos uma relação estável e segura, mas nunca poderemos nos assegurar se no fundo aquele outro ser nos ama acima de tudo. Por mais que suas palavras e ações digam que sim. Há personagens de uma vida inteira neste mundo. Alice tinha esse privilégio. Poderia escolher quem deveria se apaixonar por si com a certeza de que isso ocorreria. No entanto, são tantas dúvidas, questões instigantes. Resolveu apaixonar-se por si. Como num ato de travessura, tomou sua poção e sem se tornar Narciso, apaixonou-se por si. Agora podia sem que quisesse ser. Julieta ou Macbeth. Capitu ou Madre Tereza. Podia fazer qualquer personagem, viver quem quisesse, pois era amada por ela mesma e dona de seu próprio teatro.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Gilez

Necessitamos de uma dupla personalidade. Tripla se for preciso. É sempre necessário nos adaptar de acordo com a situação ou o ambiente. Como um camaleão. Rapte-me e saberás o que sou de acordo com onde estou. Pena que tudo sempre depende de uma segunda pessoa. Minha autonomia ainda vou conquistar, talvez nesse dia me sentirei livre em discordar e contrariar alguém. Por enquanto me contento em não ser eu mesma, mas sim quem gostariam que eu fosse. Quem gostariam? Talvez isso importe mais do que o que eu gostaria. E por que tantos talvez? Pelo simples motivo de não terem me dito a resposta certa a ser seguida ainda. Quero e consigo? Eu consigo pra vocês. Pode ser? Talvez.
Pelo menos algo é bastante singular. Essas adaptações são feitas pela necessidade de ser aceito e inserido em algo. Qualquer que seja o ambiente que mantenha um grupo social do qual há essa necessidade de que eu faça parte. Não do grupo, mas sim de mim. Isso é particular. É meu. É minha vontade, eu quero. As perguntas são sempre minhas também. Mesmo que eu não as diga a ninguém, elas são minhas e eu não abro mão. Talvez eu tenha mais meia dúzia de coisas minhas. Por isso me preocupo mesmo com o outro. O que pensam, o que querem de mim e o que eu deverei fazer para perceberem que eu me esforço para fazer parte daquilo. Alias, diga-se de passagem que fingir um personagem é comigo mesma. Não aqueles de teatro cobertos pela arte com uma entonação perfeita na voz e um holofote. O meu papel é outro. Ele faz parte da vida real e eu nunca posso repetí-lo, muito menos ensaiar. Ele simplesmente aparece no momento crucial da cena e quando eu vejo foi esplêndido. Infelizmente não recebo flores no meu camarim, mas eu espero pelo dia em que levarão no meu quarto. Ou posso viver uma atriz e experimentar essa vida de glamour. Preciso de ajuda. Esses problemas que lidam com minha personalidade me atormentam. Somente um bom médico me ajudar. E eu sou uma ótima médica, talvez você já tenha lido meus artigos sobre psicanálise. Aplausos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ao ler Kafka esses dias me identifiquei com sua relação com seu pai. Posso estar me precipitando, mas não creio que outra pessoa pudesse descrever uma relação tão atordoada e problemática, mesmo que a vivenciasse. Alias, Kafka nos faz sentir vergonha do que somos, por descrever o que sentimos no nosso interior mais íntimo. Alguns autores usam técnicas parecidas e na verdade ajudam o leitor a se conhecer. Kafka invade a sua mente e rouba a sua memória, fazendo-o se identificar com o que ele descreve.

"Tu me perguntaste recentemente por que afirmo ter medo de ti. Eu não soube, como de costume, o que te responder, em parte justamente pelo medo que tenho de ti, em parte porque existem tantos detalhes na justificativa desse medo, que eu não poderia reuní-los no ato de falar de modo mais ou menos coerente." (Carta ao pai).

A carne treme, a letra diminui, os olhos se desviam e tu ainda gritas demonstrando o prazer que tens em ter o domínio.